Para uma história da delação premiada no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v5i1.220

Palavras-chave:

Delação premiada, colaboração premiada, História do processo penal, Inconfidência Mineira, Justiça negociada.

Resumo

A busca por origens longínquas – em particular na famosa delação de Joaquim Silvério dos Reis no caso da Inconfidência Mineira – realmente corresponde à tarefa do historiador do direito interessado na delação premiada? É possível abstrair as especificidades históricas de uma delação do final do século XVIII para aproximá-la do instituto que veio se construindo ao longo das últimas décadas? A partir de uma análise mais detida dos documentos de época e partindo do pressuposto de que o historiador precisa respeitar a alteridade do passado, o presente artigo pretende diferenciar, ainda que de maneira ainda esquemática, esses dois momentos da história da delação no Brasil. Ao contrário da diluição entre passado e presente, a compreensão histórica da delação premiada permite mostrar os perfeitamente heterogêneos fundamentos e modos de funcionamento dela nesses dois períodos históricos (a lógica das mercês e a lógica do contrato), para além das superficiais analogias até então elaboradas pelas análises históricas existentes. 

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Biografia do Autor

  • Ricardo Sontag, Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte/MG
    Professor de História do Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenador do Studium Iuris– Grupo de Pesquisa em História da Cultura Jurídica (CNPq/UFMG). Doutor em Teoria e História do Direito pela Università degli Studi di Firenze

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Publicado

26.03.2019

Edição

Seção

Teoria da Prova Penal

Como Citar

Sontag, R. (2019). Para uma história da delação premiada no Brasil. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 5(1), 441-468. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v5i1.220