Clemência no Tribunal do Júri? Reflexões derivadas do argumento a fortiori trazido no voto-vogal do Min. Fachin em sede do ARE 1225185, Tema/RG 1.087

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v7i2.468

Palavras-chave:

Tribunal do Júri, clemência, garantia institucional, Povo, renúncia soberana à pena

Resumo

O artigo busca responder a questão da legitimidade da absolvição por clemência no júri a partir da análise crítica do argumento a fortiori que sustenta sua inadmissibilidade no julgamento de crimes hediondos dolosos contra a vida, pois se nem ao Parlamento seria dado abdicar da punição muito menos estaria o Tribunal do Júri autorizado a tanto. Levanta-se a hipótese de que o Tribunal do Júri, de fato, não seja hierarquicamente inferior ao Parlamento, de modo que as premissas do argumento a fortiori estariam equivocadas. Procede-se a uma revisão bibliográfica baseada no funcionalismo penal a respeito da natureza jurídica do Tribunal do Júri no ordenamento jurídico e suas consequências dogmáticas, de modo a verificar a hipótese levantada. Observa-se que o júri consiste numa garantia institucional titularizada pelo Povo, o que permite concluir que ele é hierarquicamente superior ao Parlamento e que a clemência deve, então, ser vista como uma renúncia soberana à pena.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Hugo Soares, Universidade Humboldt em Berlim (Doutorando)
    Graduado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (2014)Mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Lisboa (2019)Doutorando em Direito Penal pela Universidade Humboldt em Berlim

Referências

ABEL, Gunther. Die Bedeutung der Lehre von den Einrichtungsgarantien für die Auslegung des Bonner Grundgesetzes Berlim: Dunckler & Humblot, 1964.

https://doi.org/10.3790/978-3-428-40001-0

ARAS, Vladimir. Renúncia ao julgamento pelo júri no processo penal brasileiro. Custos Legis, vol. II, 2010.

ASCENSÃO, José de Oliveira. Pessoa, Direitos Fundamentais e Direito da Personalidade. Revista Mestrado em Direito, Osasco, ano 6, n. 1, 2006.

BARROSO, Luís Roberto. 'Operação Abafa' tenta barrar avanços do STF, escreve Barroso. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/02/em-artigo-ministro-do-supremo-rebate-criticas-feitas-ao-tribunal.shtml>. Acesso em: 02 mar. 2021.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

BYRD, B. Sharon; HRUSCHKA, Joachim. Kant zu Strafrecht und Strafe im Rechtsstaat. Juristen Zeit, Tubinga, ano 60, n. 20, 2007. https://doi.org/10.1628/002268807782338547

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.

CAVALCANTE SEGUNDO, Antonio de Holanda; SANTIAGO, Nestor Eduardo Araruna. Íntima convicção, veredictos dos jurados e o recurso de apelação com base na contrariedade à prova dos autos: necessidade de compatibilidade com um processo de base garantista. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 116, 2015.

CHESTERTON, Gilbert Keith. Tremendous Trifles. 3. ed. Londres: Methuen & Co., 1909.

COMPARATO, Fábio Konder. Variações sobre o conceito de povo no regime democrático. Estudos Avançados, São Paulo, v. 11, n. 31, 1997. https://doi.org/10.1590/S0103-40141997000300013

DAMAŠKA, Mirjan. Structures of Authority and Comparative Criminal Procedure. The Yale Law Journal, New Haven, vol. 84, n. 3, 1975. https://doi.org/10.2307/795463

DZUR, Albert W. Punishment, Participatory Democracy, and the Jury. Nova York: Oxford University Press, 2012. https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199874095.001.0001

FACCINI NETO, Orlando. A clemência e o Júri: uma tentativa de conciliação. In: FACCINI NETO, Orlando. Questões morais e direito penal: estudos reunidos (ePub). São Paulo: Saraiva, 2020.

FERRAJOLI, Luigi. Por Uma Teoria dos direitos e dos Bens Fundamentais. (ePub). Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011.

GRECO, Luís. Strafjurist mit gutem Gewissen – Kritik der opferorientierten Straftheorie. Goltdammer's Archiv für Strafrecht, 2020.

GRECO, Luís. Strafprozesstheorie und materielle Rechtskraft: Grundlagen und Dogmatik des Tatbegriffs, des Strafklageverbrauchs und der Wiederaufnahme im Strafverfahrensrecht. Berlin: Duncker & Humblot, 2015. https://doi.org/10.3790/978-3-428-54464-6

GUIMARÃES NETO, Silvio Leite. Uma teoria da pena baseada na vítima. A busca pela satisfação do indivíduo vitimado como finalidade da pena. São Paulo: Marcial Pons, 2020.

HARCOURT, Bernard E. Meditaciones postmodernas sobre el castigo: Acerca de los límites de la razón y de las virtudes de la aleatoriedad (una polémica y un manifiesto para el siglo XXI). Revista de Derecho Penal y Criminologia, Bogotá, n. 90, vol. XXXI, 2010. https://doi.org/10.5354/0718-4735.2011.29455

JACKSON, John D. Making Juries Accountable. The American Journal of Comparative Law, vol 50, n. 3, 2002. https://doi.org/10.2307/841060

KANT, Immanuel. Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für die Praxis. AA VIII, 1793.

KINGREEN, Thorsten; PORSCHER, Ralf. Grundrechte Staatsrecht II. 36. ed. Heidelberg: C. F. Müller, 2020.

LEISNER, Walter. Das Volk: Realer oder fiktiver Souverän? Berlin: Duncker & Humblot, 2005.

https://doi.org/10.3790/978-3-428-51831-9

LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 19. ed. (ePub). São Paulo: Saraiva, 2019.

MAGER, Ute. Einrichtungsgarantien: Entstehung, Wurzeln, Wandlungen und grundgesetzgemäße Neubestimmung einer dogmatischen Figur des Verfassungsrechts. Tübingen: Mohr Siebeck, 2003.

MARTINELLI, João Paulo Orsini. Paternalismo jurídico-penal. Tese de doutorado. Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2010.

MAUNZ, Theodor; DÜRIG, Günter; HERDEGEN, Matthias (Org.): Grundgesetz. Kommentar. Munique: C.H. Beck, 2020.

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. https://doi.org/10.11117/9788502155077

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo IV. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2000.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 13. ed. (ePub). Rio de Janeiro: Forense, 2016.

NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. ed. (ePub). Rio de Janeiro: Forense, 2015.

OTT, Konrad. Moralbegründungen: zur Einführung. Hamburgo: Junius, 2001.

PALMA, Maria Fernanda. O princípio da desculpa em Direito Penal. Coimbra: Almedina, 2005.

PINKER, Steven. A History of Violence; We're getting nicer every day. Disponível em: <https://newrepublic.com/article/64340/history-violence-were-getting-nicer-every-day>. Acesso em: 02 mar. 2021.

PRINZ, Jesse. Constructive sentimentalism: legal and political implications. Nomos, Nova York, vol. 53, 2013. https://doi.org/10.18574/nyu/9780814760147.003.0001

RODRIGUES, Paulo Gustavo. Redefinindo o trânsito em julgado a partir da soberania dos veredictos: a coisa julgada parcial no tribunal do júri. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 6, n. 2, 2020. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v6i2.301

ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

ROXIN, Claus; GRECO, Luís. Strafrecht Allgemeiner Teil. Bd I. 5. ed. Munique: C.H. Beck, 2020.

https://doi.org/10.17104/9783406758010

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social. Paris: Chez Mourer et Pinparé, 1797.

RUSSELL, Bertrand. History of Western Philosophy. Abingdon: Routledge, 2004.

SANDEL, Michael J. Justice: what’s the right thing to do? Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2009.

SARLET, Ingo. A Eficácia dos Direito Fundamentais: Uma Teoria Geral dos Direitos Fundamentais na Perspectiva Constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015.

SILVA JARDIM, Eliete. Tribunal do Júri – absolvição fundada no quesito genérico: ausência de vinculação à prova dos autos e irrecorribilidade. Revista EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, 2015.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

STRECK, Lenio Luiz. Júri: pode um simples "não" levar à imediata prisão do réu? Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-jan-30/senso-incomum-juri-simples-nao-levar-imediata-prisao-reu>. Acesso em: 02 mar. 2021.

TOLKIEN. John R. R. The Return of the King. Quality Paperback Book Club, 2001.

TOCQUEVILLE, Alexis de. De la démocratie en Amérique. Tomo I e II. Breslávia: Nouvelles Lectures d’Antan, 2019.

TRINDADE, André Karam; STRECK, Lenio Luiz. Júri não pode absolver porque quer ou porque sim. Nem condenar. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-jun-18/diario-classe-juri-nao-absolver-porque-ou-porque-sim-nem-condenar. Acesso em: 02 mar. 2021.

VELOSO, Caetano. Livros. Livro. Polygram, 1997.

VIEIRA, Renato Stanziola. Paridade de armas no processo penal: do conceito à aplicação no direito processual brasileiro. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.

VON HIPPEL, Robert. Deutsches Strafrecht. Bd. 2. Berlim: Springer, 1971. https://doi.org/10.1007/978-3-642-52599-5

WOLIN, Sheldon S. Norm and form. In: WOLIN, Sheldon S. Fugitive democracy: and other essays. Nova Jersey: Princeton University Press, 2016.

https://doi.org/10.23943/princeton/9780691133645.003.0005

WRANGHAM, Richard. Killer Species. Daedalus, Cambridge, vol. 133, 2004. https://doi.org/10.1162/0011526042365573

Publicado

29.08.2021

Edição

Seção

Comentários Jurisprudenciais

Como Citar

Soares, H. (2021). Clemência no Tribunal do Júri? Reflexões derivadas do argumento a fortiori trazido no voto-vogal do Min. Fachin em sede do ARE 1225185, Tema/RG 1.087. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 7(2), 1513. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v7i2.468