Na contramão do discurso midiático: uma perspectiva garantista da atuação do delegado ou da delegada de polícia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v3i2.66

Palavras-chave:

Ações policiais, prisões, espetaculização, liberdade de imprensa, garantias fundamentais, dignidade da pessoa humana, autoridade policial.

Resumo

Observado o interesse geral pelas ações policiais, em especial pelas prisões realizadas, parece natural que o jornalismo investigativo, se valendo da liberdade constitucional de imprensa, pretenda divulgar os resultados das suas operações. Partindo da constatação da prática policial de expor à mídia o desviante detido logo após a sua captura, transformando este momento processual num espetáculo nem sempre admissível, e considerando os seus direitos e garantias constitucionais, especialmente a dignidade da pessoa humana, a presunção de inocência e os direitos de imagem (que não lhe são restringidos nem mesmo com a condenação definitiva), este artigo pretende, com base em pesquisa doutrinária, refletir a respeito da postura a ser adotada pela autoridade policial nessa situação. Questiona-se se há alguma circunstância em que a exposição do desviante detido é justificável. A hipótese é que cabe à autoridade policial resguardar a imagem daquele desviante detido, a menos que sua exposição seja necessária à investigação criminal.

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Biografia do Autor

  • Soraia da Rosa Mendes, UFRJ - Rio de Janeiro/RJ IDP e UniCeub - Brasília/DF
    Pós-doutoranda em Teorias Jurídicas Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Doutora em Direito pela Universidade de Brasília - UnB. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em Direitos Humanos pelo CESUSC/IFIBe. Professora do PPG Mestrado em Direito do Instituto Brasiliense de Direito Público - IDP, Professora de Direito Penal Centro Universitário de Brasília - UniCeub. Pesquisadora líder dos Grupos de Pesquisa Sistema Penal e Garantias Fundamentais (CNPq-IDP). Membro da Associação Internacional de Direito Penal - AIDP. Autora de obras, dentre outras, Criminologia Feminista: novos paradigmas ( Editora Saraiva, 2014, segunda tiragem).
  • Patrícia Tiraboschi Burin, IDP - Brasília/DF
    Mestranda pelo IDP – Brasília/DF, pesquisadora do Grupos de Pesquisa Sistema Penal e Garantias Fundamentais (CNPq-IDP), assessora jurídica no STJ.

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Publicado

08.06.2017

Edição

Seção

DOSSIÊ: Investigação preliminar, meios ocultos e novas tecnologias

Como Citar

Mendes, S. da R., & Burin, P. T. (2017). Na contramão do discurso midiático: uma perspectiva garantista da atuação do delegado ou da delegada de polícia. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 3(2), 537-566. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v3i2.66